Se o meu jardim fosse um terreiro, a Beriba seria a mãe-grande. Seria o elo que vincula cada uma das raízes e cada um dos galhos que formam a base, concentram a seiva, fornecem a sombra. Beriba que quando enverga não rompe. Que canta o toque de chamada: convoca aos seus pés sua família para o ritual do acolhimento, da construção, da luta. Beriba que juntada à cabaça gera a vida, gera o novo, gera o movimento contínuo de apaixonada resistência e de sorridente existência.
Guardiã da sabedoria e flecha certeira de Oxóssi.

Se o meu jardim fosse um terreiro, a Vinagreira seria a ekedi. Seria o sabor sutil que revigora, cuida dos corpos e distribui os afetos. Pétalas frescas que resplandecem enganosa fragilidade. Pétalas adormecidas e secas, que sorvidas com o calor da água e o ardor da mangarataia renascem em outros corpos.
Guardiã da memória que de mãos dadas com Nanã conhece a morte e com ela graceja sem temer, pois com ela convive. Que pelas mãos de Nanã molda a pureza da vida no barro, no limo e no lodo.

Se o meu jardim fosse um terreiro, a Samambaia seria a mãe-pequena. Seria a espora ancestral que sobrevive com e pelos outros. Samambaia solidamente enraizada no pé do iroko, e que de lá olha por todos. Recebe a água da chuva e a faz gotejar na boca dos sedentos. Recebe os raios do sol que reparte, alumiando a todos por igual.
Guardiã das cabeças e seio farto de Iemanjá.

Jessica Assard
Professeure de langue et littératures lusophones,
doctorante en littérature brésilienne.