Quilombagem, marooning, marronage… Muitas são as línguas coloniais nas quais aparece esse termo que designa a fuga de humanos escravizados na tentativa de escapar das plantações e casas-grandes rumo às comunidades refugiadas nos palmares ou no topo dos morros. Associação Oyà convidamos vocês a pensar o quilombo. Uma vez por mês faremos um encontro com alguém ligado às tradições de matriz africana para conversarmos sobre o quilombo sob diversas perspectivas.

Esse mês nos convidamos TC Silva, coordenador da Casa de Cultura Tainã, entidade cultural e social fundada em 1989 que procura possibilitar o acesso à informação, fortalecer a prática da cidadania e a formação da identidade cultural dos indivíduos. TC é tambem idealizador da rede Mocambos, rede de comunidades quilombolas, indígenas, urbanas, rurais, associações da sociedade civil e pontos de cultura, oriundos do norte ao sul do país, conectados através das tecnologias da informação e comunicação.

« Nesse momento o mundo está vivendo um momento de cinzas. Uma época de carnaval sem carnal. Eu compus vários sambas enredo daqui de Campinas. Minha vida foi bastante ligada à cultura de escolas de samba que lamentavalmente não existem mais por causa da cultura colonizadora dessa cidade.

Campinas é uma cidade de barões. Aqui é a riqueza de São Paulo, da indústria e da agricultura. Um centro de experimentação e de pesquisas. Até hoje a cidade é conhecida como o maior polo tecnológico da América Latina. Então essa cultura, essa tradição da cidade, desses coroneis, desses barões do café, sempre atuou no sentido de reprimir nossas manifestações e criminalizá-las. São Paulo foi uma das últimas cidades do Brasil a adotar o trabalho escravo, quando teve acesso ao litoral para escoar as produções. E quando esses coroneis conseguiram esse acesso eles tinham um acúmulo de riquezas por causas da guerra pelo ouro, pelos diamantes etc. Quando adotaram a produção agricola como estratégia, tinham muito dinheiro para comprar escravizados. São Paulo comprou muitos escravizados de muitos lugares do Brasil até o ponto de inflacionar o mercado de escravos pagando qualquer preço para obter um grande volume para a expansão da cidade. Campinas era o polo de desenvolvimento da agricultura, consequentemente as grandes fazendas cafeeiras e canavieiras se instalaram aqui. Então em pouco tempo, num espaço de 30 anos, o número de escravizados era de 80% da população da cidade.

Então tinha uma população dominante muito inferior e esse barril de pólvora, essa força, precisava ser contida através de repressão e violência para essa galera ficar quieta dentro da senzala e trabalhando. A cidade de Campinas é o resultado disso. Uma cidade de grande população negra na qual hoje não tem mais carnaval, sendo que o carnaval aqui era tão potente quanto o carnaval de São Paulo… No estado, era Campinas que tinha uma cultura de carnaval que se aproximava mais daquela do Rio de Janeiro, com samba de roda etc. Hoje sobrou uma cultura de blocos que acontecem nos bairros da burguesia branca da cidade e na região da universidade. Mas não são manifestações que nos acolhem. A polícia não deixa a gente sair de onde a gente vive para chegar nesses lugares. É tambem no centro da cidade que construíram uma cultura de shopping center onde pretos e pobres não se identificam e quando tentam acessar esses lugares são reprimidos. Por exemplo, acabamos de libertar o meu filho e o filho de um amigo que passaram 14 dias presos por um crime que eles não cometeram. Ficaram numa cela com 30 pessoas das quais 25 eram jovens negros abaixo de 30 anos e a maioria deles estava lá na mesma situação que meu filho.

Então a gente vive nesse estado onde custumo dizer que o racismo não é so estrutural, ele é tambem constitucional. Visto que nem a Constituição dá garantia aos direitos básicos da nossa humanidade e da nossa dignidade. A gente vive nessa cidade, nesse país que é desse jeito.

A Casa de Cultura Tainã vem também de outras experiências como por exemplo o grupo Evolução do qual a gente fez parte. No grupo de teatro Evolução a gente ensaiava no mato pois a gente não tinha espaço para ensaiar. Chegamos a ser presos em 74 ou 75 por colar cartaz. Esse grupo foi importante na construção do movimento negro no Brasil. Nós nos conectamos com outros grupos do Rio e de Porto Alegre por exemplo e a gente iniciou o processo de propor o dia 20 de novembro como data simbólica da luta do povo negro.

Uma data que nos representa por ser o dia da morte do Zumbi dos Palmares. E a nossa referência de luta sempre foi a luta palmarina. A luta das mulheres pretas de Palmares. Homens e mulheres que lutaram para pensar e fazer um mundo mais do nosso jeito. Essa referência de quilombo é o que nos aproxima da nossa ancestralidade.

Na concepção africana do mundo, a terra é o princípio do mundo. A terra é o Orum e o Ayiê. A terra é o que nutre a vida, os princípios da natureza, o viver coletivamente, o pensar além de mim. Nossa terra, nossa casa, nossa comida, nossas crianças. Isso é civilizador. Se o mundo inteiro pensasse assim os problemas do mundo seriam reduzidos.

Então essa referência quilombola que a gente carrega vem da nossa ancestralidade. Hoje a gente pensa o quilombo no Brasil mas a gente já se aquilombava nas Áfricas. Viver em comunidades, ver toda a produção de vida, o jeito de ver o mundo, a cultura do compartilhar, da generosidade, do afeto, isso estava presente em toda a trajetória das Áfricas nas diásporas.

« Terra, semente, trabalho é liberdade. »

Então a gente fala de capoeira, uma manifestação de raiz africana. Pensa numa roda de capoeira onde se toca um berimbau, um atabaque, um agogô. Onde se começa a jogar sempre em roda, todo mundo pode, todo mundo entra, todo mundo brinca, todo mundo compartilha aquele momento de felicidade. Todo mundo sai bem, todo mundo se abraça. É uma cultura humanizante. E se você for no samba é desse jeito, se você for num jongo é desse jeito também, se você for no candomblé, na umbanda, no maracatu, no bumba-meu-boi, no tambor de crioula, no samba de roda, na congada é desse jeito. Tudo propõe o bem-estar coletivo. Ninguém precisa ser cotista, ou da mesma cor, ou da mesma religião, ou do mesmo sexo. Nas nossas manifestações cabem todos e todas, e ninguém precisa de nenhum dinheiro para participar delas. Estamos falando de um processo de vida que se ele não for suficiente para curar, adoecer não adoece né. A gente está num mundo onde tudo é o contrário disso. Ninguém pode fazer nada sem dinheiro, comprar no supermercado, fazer ligação, pegar um onibus etc. Até quando vai na igreja tem que deixar um dinheiro lá pra galera também.

Então vamos falar mais do mundo do nosso jeito. A gente tem essas referências. Imagina trocar a capoeira pelo balé do Bolchoï, é outro processo não é ? A capoeira vai na praça faz uma roda e todo mundo fica bem. No maracatu você pega os tambores vai na praça e todo mundo dança. Mas no circo do Soleil não dá. Você tem que ter uma grana legal para poder entrar na parada. Então a gente tem essa leveza, essa proposta de vida que eu acho curativa. Então nesse tempo adoecido no qual estamos, nesse tempo de pandemia e de pandemônio, onde caminhamos até esse lugar que transformou tudo em cinzas, em pedras, nesse capitalismo perverso que gera violência, desigualide, sofrimento, a gente continua propondo a mesma coisa.

Se toca o berimbau do mesmo jeito, se dança e se joga capoeira do mesmo jeito, continuamos a acolher todo mundo, disponibilizando o afeto, o carinho, o conhecimento, a sabedoria. Isso é uma psicologia social. A capoeira ajuda as pessoas a se equilibrarem emocionalmente. Vocês que lidam com capoeira sabem bem disso. A música, o tambor, o canto são coisas que fazem bem e que ajudam a curar. Eu acredito que a gente tem cura. A cura do mundo vai ter que passar por aí. Ressignificar os valores das coisas porque se a gente fica seguindo a ideia que o dinheiro é a solução para tudo, a gente vai seguir se iludindo. E a gente sabe que o dinheiro não é a solução. Se o dinheiro fosse capaz de contribuir com a evolução espiritual e a evolução humana, as pessoas mais ricas seriam as mais generosas e com aquele acúmulo de dinheiro que elas têm, elas poderiam acabar com o sofrimento do mundo todo. Mas elas não fazem isso.

Aliás a maior concentração de dinheiro está na mão de um grupo de pessoas muito pequeno. E a maioria está ligado a novas tecnologias e comunicação. Enquanto isso, as grandes capitais estão transformadas em gueto, em favelas com muita miséria e com pessoas sem perspectiva nenhuma de vida e de futuro. Isso não para de aumentar e a gente se deixou levar pela cultura colonialista de consumo e de acumulação. As pessoas acreditam e alimentam essa cultura e esse sistema perverso. A gente escolhe, elege uma cultura perversa pra gente. Olha o que aconteceu no Brasil. Isso foi escolha de uma maioria. Hoje estamos vivendo uma tragédia. Precisamos fazer um trabalho civilizador onde vamos reconhecer o valor do trabalho das pessoas para que elas tenham a sua dignidade.

Então vamos refletir e pensar qual alternativa a gente tem para isso ? Qual é o nosso desejo ? Qual tipo de mundo a gente quer ?

Nesse momento de pandemia, o mundo todo está fazendo uma grande travessia num mar totalmente nublado. Mas ainda nos resta a possibilidade de sonhar com o lugar que a gente quer. Qual seria esse lugar ? Acho que primeiro temos que nos livrar do nossos vícios. Hoje estamos chegando em Marte com o mesmo espírito de poder, de guerra e de dominação. Nosso vício de novo vai ser implantado lá. Pois a gente não evoluiu o suficiente para a gente entender a importância de nos voltarmos para nós.

Eu aprendi uma música com um garoto nigeriano de 16 anos que fugiu para o Brasil num navio de carga. Chegou no porto de Santos totalmente debilitado. Foi por volta de 1985, 1986. Naquela época eu estava junto com Raquel Trinidade criando a comissão de cultura da cidade, do conselho da comunidade negra. Apareceu esse garoto, o Tala. Com ajuda de um tradutor conseguimos conversar. Contou todo o processo que ele passou. Dei pra ele um tambor e ele começou tocar um ritmo e toquei junto com ele. Pedi pra ele cantar. (TC cantou essa música em Yorubá)

A letra significa mais ou menos isso : « Na casa dos meus pais eu aprendo tudo o que eu preciso para comprender quem eu sou e qual é a missão. Não importa onde eu esteja no mundo, estarei bem se eu estiver com a casa dos meus pais dentro de mim ». Então fala da consciência de si, de ter consciência de quem você é. Do que nos estrutura como sujeito pleno. Se a gente não tem essa capacidade de reconhecer quem somos, dificilmente a gente vai andar no mundo e produzir benefício. A gente vai espalhar nossas confusões, porque a humanidade está perdida, ela está confusa e não sabe mais o valor das coisas, ela se aceita como coisa.

Se a gente não tem como princípios a cultura e o território, que é isso se aquilombar, para reconstruir e ressignificar valores da nossa humanidade, a gente vai ficar caminhando a esmo eternamente. É isso que estamos fazendo há mais de 20 anos, criando os nossos territórios, como por exemplo com essa ferramenta digital, que não é o Zoom ou o Meet da Google, é uma ferramenta livre (nota : Jitsi, programa livre de direto com codigo aberto) onde estamos conversando agora. Isso foi construído. As pessoas querem se ajustar de alguma maneira ao mundo que eles, o sistema e as grandes empresas, nos oferecem. Por isso a Google, a Amazon têm tanta grana, porque nós obedecemos aos estímulos que eles provocam em nós (Tc canta Vida de gado de Zé Ramalho)

Gado não questiona, espera a hora do abate.

Nós somos pensados como produto. Olha a Google: não tem nada. O Youtube tambem não. Somos o produto deles, tudo o que eles tem lá, nós que botamos. E eles enriquecerem e nós não. Eles nos fazem pensar que sem eles a gente não existe, mas é o contrário. Estamos aqui para contrariar essa lógica. Nós somos e nós podemos, mas precisa querer. Precisa querer se aquilombar. Nós precisamos pensar, capitalizar em cima da nossa própria liberdade. »

Axé!

Quilombagem, marooning, marronnage… Nombreuses sont les langues coloniales où apparaît ce terme désignant la fuite des humains réduits en esclavage qui s’échappaient des plantations et des maisons des maîtres pour rejoindre des communautés réfugiées dans les palmeraies ou sur les mornes. L’Association Oyà vous proposent de penser le quilombo. Tous les mois, nous rencontrons une personne liée aux traditions de matrice africaine pour discuter le quilombo sous diverses perspectives

Ce moi-ci nous vous invitons à rencontrer TC Silva, coordinateur dela Casa de Cultura Tainã, organisation culturelle et sociale fondée en 1989 qui a pour but de rendre possible l’accès à l’information, renforcer la pratique de la citoyenneté et la formation de l’identité culturelle des individus. TC est aussi à l’initiative du réseau Mocambos, réseau de communautés quilombolas, amérindiennes, urbaines, rurales et d’associations de la société civile situées dans tout le pays et connectées via des technologies de l’information et de la communication.

« Actuellement le monde vit une période de cendres. Une époque de carnaval sans le charnel. J’ai composé plusieurs thèmes de carnaval ici à Campinas. Ma vie a été très liée à la culture des écoles de samba qui malheureusement n’existent plus à cause de la culture colonisatrice de cette ville.

Campinas est une ville de barons. C’est ici que se trouve la richesse de l’état de São Paulo en matière d’industrie et d’agriculture. Un centre d’expérimentations et de recherche. Jusqu’à nos jours, la ville est reconnue comme plus grand pôle technologique de l’Amérique Latine. Alors cette culture, cette tradition des coroneis (hommes puissants détenant le monopole des terres et du capital agro-alimentaire), des barons du café, a toujours fait en sorte de réprimer nos manifestations et de les criminaliser. São Paulo a été l’une des dernières grandes villes du Brésil a adopter la main d’œuvre esclave au moment où elle a eu accès au littoral pour écouler la production. Et lorsque ces coroneis ont réussi à avoir cet accès ils avaient accumulé beaucoup de richesses à cause de la ruée vers l’or, les diamants, etc. Lorsqu’ils ont adopté la stratégie de production agricole, ils avaient beaucoup d’argent pour l’achat d’esclaves. São Paulo a acheté beaucoup de personnes réduites à l’esclavage provenant de bien des endroits du Brésil, au point de provoquer l’inflation du marché d’esclaves en payant n’importe quel prix pour obtenir un grand volume de travailleurs en vue de l’expansion de la ville. Campinas était le pôle de développement de l’agriculture, donc les grandes propriétés agricoles productrices de café et de la canne-à-sucre se sont installées ici. Alors en peu de temps, environ 30 ans, le nombre d’esclaves représentait 80% de la population de la ville.

Donc il y avait une population dominante numériquement très inférieure et ce baril de poudre, cette force, qui devait être contenue à travers la répression et la violence pour que tous ces gens continuent à travailler sans broncher, au calme dans la senzala (lieu de vie des esclaves en opposition à la casa-grande où habitaient les maîtres). La ville de Campinas est le résultat de tout ça. Une ville comptant une grande population noire mais où aujourd’hui il n’y a plus de carnaval, alors même que le carnaval a déjà été aussi grandiose que celui de São Paulo ici… Au niveau de l’état, c’est à Campinas que l’on retrouvait une culture du carnaval qui se rapprochait le plus de celle de Rio de Janeiro, avec la samba de roda etc. Aujourd’hui il nous reste une culture de blocs de rue qui ont lieu dans les quartiers de la bourgeoisie blanche et dans la région de l’université. Mais ce ne sont pas des manifestations qui nous accueillent. La police ne nous laisse pas sortir d’où on habite et aller jusqu’à ces endroits. Il y a aussi le centre-ville où on a construit une culture de centres commerciaux où les noirs et les pauvres ne trouvent pas leur place et sont réprimés lorsqu’ils essayent d’y accéder. Par exemple, on vient de faire relâcher mon fils et celui d’un ami qui ont passé 14 jours en prison pour un crime qu’ils n’ont pas commis. Ils ont été enfermés avec 30 personnes parmi lesquelles 25 étaient des jeunes noirs qui n’avaient pas 30 ans et dont la plupart se trouvait là dans la même situation que mon fils.

Donc on vit cette situation et j’ai pour habitude de dire que le racisme n’est pas seulement structurel, il est aussi constitutionnel étant donné que pas même la Constitution ne nous garantit les droits les plus basiques d’humanité et de dignité. On vit dans cette ville, dans ce pays qui est comme ça.

La Casa de Cultura Tainã est aussi le fruit d’autres expériences comme par exemple la troupe Evolução à laquelle on a participé. Lorsqu’on faisait partie de la troupe de théâtre Evolução, on répétait dans les sous-bois parce qu’on n’avait pas de local pour répéter. On a été arrêtés en 1974 ou 1975 parce qu’on collait des affiches. Cette troupe a aussi été importante dans la construction du mouvement noir brésilien. Nous avons tissé des liens avec d’autres troupes de Rio de Janeiro et de Porto Alegre (capitale située dans le sud du Brésil) par exemple, et on a enclenché le processus de proposer le 20 novembre comme date symbolique de la lutte du peuple noir.

Une date qui nous représente car c’est le jour de la mort de Zumbi dos Palmares. Et notre référence de lutte a toujours été la lutte de Palmares. La lutte des femmes noires de Palmares. Des hommes et des femmes qui ont lutté pour pouvoir penser et faire un monde un peu plus à notre façon. Cette référence de quilombo est ce qui nous rapproche de notre ancestralité.

Dans la conception africaine du monde, la terre est au commencement du monde. La terre est l’Orum et le Ayiê. La terre c’est ce qui alimente la vie, ce sont les principes de la nature, c’est le vivre-ensemble, c’est penser au-delà de moi-même. Notre terre, notre foyer, notre nourriture, nos enfants. C’est civilisateur. Si le monde entier pensait comme ça les problèmes du monde diminueraient.

Donc cette référence de quilombo qu’on porte en nous vient de notre ancestralité. Aujourd’hui on réfléchit au quilombo au Brésil, mais on s’aquilombait déjà en Afrique. Vivre en communauté, voir toute la production de la vie, la façon de voir le monde, la culture du partage, de la générosité, de l’affect, tout ça était déjà présent dans toute la trajectoire des Afriques dans les diasporas.

Alors on peut parler de la capoeira, une manifestation de matrice africaine. Pense à une ronde de capoeira où on joue du berimbau, de l’atabaque, de l’agogô. Où on commence à jouer toujours en ronde, tout le monde peut, tout le monde entre, tout le monde joue, tout le monde partage ce moment de bonheur. Tout le monde en resort bien, tout le monde se prend dans les bras. C’est une culture humanisante. Et si tu vas à la samba c’est pareil, si tu vas dans un jongo aussi, si tu vas au candomblé, à la umbanda, au maracatu, au bumba-meu-boi, au tambor de crioula, au samba de roda, à la congada, c’est comme ça. Tout est fait pour le bien-être collectif. Personne n’entre par cotas, pas besoin d’être de la même couleur, de la même religion, ou du même sexe. Dans nos manifestations il y a de la place pour tout le monde et personne n’a besoin d’argent pour y participer. On parle là d’une façon de vivre qui, si elle ne suffit pas à guérir, au moins elle ne rend pas malade. On vit dans un monde où tout est à l’opposé de ça. Personne ne peut rien faire sans argent, faire des courses au supermarché, appeler quelqu’un au téléphone, prendre le bus, etc. Même quand tu vas à l’église il faut laisser un peu d’argent là-bas aussi.

Donc on va parler un peu du monde à notre façon. On a ces références. Imagine si on change la capoeira par le ballet Bolchoï, ça devient un autre processus hein ? La capoeira se joue sur une place où on fait une ronde et tout le monde s’y trouve bien. Pour le maracatu, tu prends les tambours, tu te poses sur une place et tout le monde danse. Mais pour le Cirque du Soleil c’est pas possible. Il faut que tu aies une bonne somme d’argent pour te payer une entrée. Donc on a cette légèreté, ce modèle de vie qui pour moi a des vertus de guérison. Donc par ces temps maladifs, ce temps de pandémie et de pandemonium, où on chemine vers cet endroit qui a tout transformé en cendres, en pierres, ce capitalisme pervers qui génère de la violence, de l’inégalité, de la souffrance, on continue de proposer la même chose.

On continue à jouer du berimbau de la même façon, à danser et à jouer dans la capoeira de la même façon, on continue à accueillir tout le monde, à mettre à disposition l’affect, la tendresse, la connaissance, la sagesse. C’est une psychologie sociale. La capoeira aide les gens à retrouver un équilibre émotionnel. Vous qui travaillez avec la capoeira vous le savez bien. La musique, le tambour, le chant, sont des choses qui font du bien et qui aident à guérir. Je crois qu’on peut guérir. La guérison du monde va devoir passer par ça. Il faut resignifier la valeur des choses parce que si on continue à penser que l’argent est la solution à tout, on va continuer dans l’illusion. Et on sait que l’argent n’est pas la solution. Si l’argent était capable de contribuer à l’évolution spirituelle et à l’évolution humaine, les gens les plus riches seraient les plus généreux et avec tout l’argent qu’ils ont accumulé ils pourraient en finir avec la souffrance du monde entier. Mais ils ne le font pas.

D’ailleurs la plus grande concentration d’argent est entre les mains d’un très petit groupe de personnes dont la plupart est liée aux nouvelles technologies et à la communication. Pendant ce temps, les grandes capitales deviennent des ghettos, des favelas remplies de misère et de personnes qui n’ont aucune perspective de vie et de futur. Ça ne fait qu’augmenter et nous nous sommes laissés emporter par la culture colonialiste de la consommation et de l’accumulation. Les gens croient en cette culture et en ce système pervers et l’alimentent. On se choisit à nous-mêmes une culture perverse. Regarde ce qui s’est passé au Brésil. C’est le résultat du choix d’une majorité. Aujourd’hui on vit une tragédie. On a besoin de faire un travail civilisateur où on va reconnaître la valeur du travail des personnes pour qu’elles retrouvent leur dignité.

Donc on va réfléchir et penser aux alternatives. Quel est notre souhait ? Quel type de monde on veut ?

En ce moment de pandémie, le monde est en train de faire la grande traversée d’une mer totalement embrumée. Mais il nous reste encore la possibilité de rêver à l’endroit qu’on souhaite. Quel serait cet endroit ? Je pense qu’on doit d’abord se libérer de nos vices. Aujourd’hui on arrive sur Mars avec le même état d’esprit de pouvoir, de guerre et de domination. Notre vice va être implanté là-bas car nous n’avons pas assez évolué pour comprendre l’importance de se retourner vers soi-même.

J’ai appris une chanson avec un jeune garçon nigérien de 16 ans qui a fui vers le Brésil dans un cargo. Il est arrivé au port de Santos complètement famélique. C’était aux alentours de 1985, 1986. À cette époque-là j’étais en pleine création de la commission de culture de la ville, du conseil de la communauté noire avec Raquel Trindade. Et voilà que ce jeune garçon, Tala, est apparu. Avec l’aide d’un interprète on a réussi à discuter. Il nous a raconté tout son périple. Je lui ai tendu un tambour et il a commencé à jouer un rythme et je l’ai accompagné. Je lui ai demandé de chanter. TC chante cette chanson en Yoruba :

Les paroles signifient à peu près ça : « Dans la maison de mes parents j’apprends tout ce dont j’ai besoin pour comprendre qui je suis et quelle est la mission. Peu importe où je me trouve dans le monde, je serai bien si j’ai la maison de mes parents à l’intérieur de moi ». Donc ça parle de conscience de soi, d’être conscient de qui on est. De ce qui nous structure en tant que sujet à part entière. Si on n’a pas cette capacité de reconnaître qui on est, difficilement on va parcourir le monde en lui étant bénéfique. On va disséminer notre confusion parce que l’humanité est perdue, elle est confuse et elle ne sait plus la valeur des choses, elle s’accepte elle-même en tant que chose.

Si on n’a pas pour principes la culture et le territoire – car s’aquilomber c’est ça – pour reconstruire et redonner du sens aux valeurs de notre humanité, on va déambuler sans but éternellement. C’est ce qu’on fait depuis plus de 20 ans, on crée nos territoires. Prenez par exemple cet outil digital qui n’est ni Zoom ni le Meet de Google. C’est un outil libre, Jitsi, à travers lequel on discute maintenant. Cet outil a bien du être pensé, construit. Les gens veulent s’ajuster d’une façon ou d’une autre au monde que le système et les grandes entreprises nous offrent. C’est pour ça que Google, Amazon, ont autant d’argent, parce qu’on obéit aux stimuli qu’ils provoquent en nous (il chante une chanson de Zé Ramalho appelée Vie de bétail).

Le bétail ne questionne pas, il attend l’heure de l’abattage.

Nous sommes vus comme un produit. Regarde Google : il n’y a rien. Youtube, pareil. Nous sommes leurs produits, tout ce qu’il y a dessus, c’est nous qui le mettons. Et ils s’enrichissent, mais pas nous. Ils nous font croire que sans eux on n’existe pas, mais c’est l’inverse. On est ici pour contredire cette logique. Nous sommes, nous pouvons, mais il faut vouloir. Il faut vouloir s’aquilomber. Nous devons réfléchir, capitaliser sur notre propre liberté. »

Axé!

Traduction et transcription par Jessica Assard.
Professeure de langue et littératures lusophones,
doctorante en littérature brésilienne.